“Ditadura também se faz com constrangimento”: Barroso e Cármen Lúcia recebem oficial de Justiça humilhada por Bolsonaro na UTI
Servidora foi filmada e intimidada ao cumprir mandado judicial; STF e TSE repudiam ato e estudam medidas para proteger categoria

Introdução
A cena poderia ser extraída de um manual de autoritarismo: uma servidora pública, cumprindo ordens judiciais, é filmada, interrogada e humilhada por um réu em processo por golpe de Estado — tudo dentro de uma UTI, espaço que deveria ser sagrado para a recuperação de pacientes. Na quarta-feira (7/5), os ministros Luís Roberto Barroso (STF) e Cármen Lúcia (TSE) receberam a oficial de Justiça Cristiane Oliveira, vítima de constrangimento ao intimar Jair Bolsonaro no Hospital DF Star, em Brasília. O gesto foi uma resposta institucional a um ato que mistura machismo, desrespeito ao Estado Democrático e táticas clássicas de intimidação de testemunhas.
O constrangimento: Bolsonaro transforma UTI em palco de ataque à Justiça
No dia 23 de abril, Cristiane Oliveira entrou na UTI do hospital para entregar a Bolsonaro uma intimação do STF sobre o processo que o torna réu por tentativa de golpe de Estado. O ex-presidente, porém, agiu como um chefe de milícia diante de uma adversária:
- Filmou a servidora sem consentimento, expondo-a publicamente em suas redes sociais.
- Questionou agressivamente sua autoridade, exigindo que ela verbalizasse o nome do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso.
- Distorceu fatos, afirmando que “tudo no Supremo é secreto” — mentira prontamente corrigida pela oficial: “Esse mandado não está em segredo de Justiça”.
A cena, que durou 11 minutos, escancarou a estratégia bolsonarista: transformar a execução da lei em espetáculo de vitimização, enquanto se ataca a independência das instituições.
A reação do STF: Solidariedade institucional e alerta sobre machismo
Barroso e Cármen Lúcia não apenas receberam Cristiane, mas destacaram o caráter simbólico do ataque:
- Proteção aos servidores: Barroso afirmou que o STF estuda medidas para evitar novos constrangimentos, como escolta policial em diligências sensíveis.
- Machismo estrutural: Cármen Lúcia lembrou que a condição de mulher da oficial agravou a humilhação — padrão recorrente em ataques a servidoras públicas.
- Defesa da democracia: “Ditadura não se faz apenas com tanques. Se faz também com gestos que buscam deslegitimar quem aplica a lei”, poderia resumir Barroso, em linha com seu histórico de defesa do Estado de Direito.
Por que Bolsonaro agiu assim? A estratégia do caos institucional
O episódio não foi um “descontrole”: foi calculado. O ex-presidente busca:
- Criar um mártir: Usar a UTI como cenário para reforçar a narrativa de “perseguição política”.
- Incentivar a violência: Ao expor a servidora, estimula ataques de sua base radicalizada contra funcionários do Judiciário.
- Testar limites: Se o STF não reagisse, normalizaria a intimidação a agentes públicos — tática comum em regimes autoritários.
A defesa de Bolsonaro chegou a questionar a “urgência” da intimação, ignorando que o próprio ex-presidente fez uma live política da UTI um dia antes, demonstrando plena capacidade de comunicação.
Conclusão: O STF reagiu, mas a sociedade não pode baixar a guarda
O caso Cristiane Oliveira é um termômetro do golpismo em ação. Enquanto Bolsonaro tenta desmoralizar a Justiça, o STF responde com institucionalidade — mas é preciso mais:
- Punição pela divulgação ilegal das imagens da servidora.
- Pressão popular para que o PL seja responsabilizado por ataques a agentes públicos.
- Memória: Lembrar que, em regimes autoritários, o primeiro passo é desumanizar quem aplica a lei.
Como disse Cármen Lúcia no julgamento do golpe: “Ditadura mata, ditadura vive da morte”. E ela começa com gestos como os de Bolsonaro na UTI.