A Câmara tentou blindar aliados do golpe, mas o STF enterrou a manobra — e Hugo Motta agora enfrenta a ira de oposição e aliados.

Introdução
A decisão do STF nesta sexta-feira (9/5) de manter a ação penal contra o deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ) por crimes ligados à trama golpista de 2022 não foi apenas uma vitória da legalidade — foi um terremoto político que expôs as fissuras entre os Poderes e o desgaste do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB). Por 5 votos a zero, a Primeira Turma do Supremo enterrou a tentativa da Câmara de suspender o processo contra o aliado de Bolsonaro, numa derrota estratégica para o bolsonarismo e um recado claro: o Judiciário não aceitará o uso da imunidade parlamentar como escudo para crimes contra a democracia.

A manobra e seu fracasso
A Câmara havia aprovado na quarta-feira (7/5), por 315 votos a 143, a suspensão da ação penal contra Ramagem — uma manobra que, na prática, poderia beneficiar todos os réus do “núcleo duro” do golpe, incluindo Jair Bolsonaro. O relator, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), ignorou alertas prévios do STF sobre a inconstitucionalidade da medida.

O STF, porém, fez tripla cirurgia na decisão:

  1. Limitou a suspensão apenas aos crimes cometidos após a diplomação de Ramagem (dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado)
  2. Manteve a ação por tentativa de golpe, abolição do Estado Democrático e organização criminosa
  3. Bloqueou o efeito cascata que poderia atingir outros réus, como Bolsonaro e Braga Netto

O preço político de Motta
O presidente da Câmara agora paga o preço por ter apostado alto numa jogada arriscada:

  • Na oposição, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) cobrou publicamente: “Vai defender a soberania do Parlamento ou assistir calado?”
  • No governo, Lindbergh Farias (PT-RJ) celebrou: “STF enterrou o trem da anistia. Golpistas responderão por seus crimes” 
  • No centrão, aliados reclamam em off: “Motta foi longe demais ao desafiar o STF” 

A estratégia de Motta — que dias antes jantou com Moraes e Gilmar Mendes — revelou-se um tiro no pé. Seu discurso inicial de “harmonia entre os Poderes” foi substituído pela imagem de um líder que cedeu à pressão bolsonarista e perdeu o controle da situação.

Os números da derrota

  • 1.586 pessoas foram denunciadas pela PGR pelos ataques de 8/1
  • 131 presos atualmente (42 provisórios, 84 definitivos)
  • 5 crimes imputados a Ramagem, com penas que somariam até 30 anos

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