Barroso revela: sem os EUA, golpe bolsonarista teria avançado
Presidente do STF expõe bastidores e aponta que alertas diplomáticos de Washington foram cruciais para conter intentona golpista no Brasil

“Se não fossem os americanos, talvez o golpe tivesse acontecido.” A frase dita por Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), durante uma conferência da Universidade de Columbia, em Nova York, não é só um desabafo. É uma confissão institucional de que o Brasil esteve por um triz de mergulhar em um abismo autoritário — e que, ironicamente, foi salvo por pressões externas.
Barroso, longe de ser um incendiário, não fala por falar. Ao admitir que os Estados Unidos exerceram “pressão sobre os militares para que não embarcassem na aventura golpista” após a vitória eleitoral de Lula em 2022, o ministro escancara uma ferida aberta: o alto comando das Forças Armadas flertou com o golpismo — e precisou de um puxão de orelha internacional para recuar.
Os bastidores da contenção: silêncio aqui, pressão lá fora
O que chama atenção não é só o conteúdo, mas o contraste. Enquanto no Brasil se alimentava a tese da “pacificação”, nos bastidores diplomáticos corria um jogo duro. Autoridades americanas, segundo Barroso, transmitiram recados diretos e duros aos militares brasileiros. Recados que, segundo ele, foram decisivos para barrar uma ruptura institucional. Por que razão os Estados Unidos, potência que tantas vezes patrocinou ditaduras na América Latina, desta vez optaram por frear o golpe?
Simples: o bolsonarismo não era confiável nem para a direita internacional. Trump havia fracassado em sua tentativa de manter o poder nos EUA com o assalto ao Capitólio — e Bolsonaro parecia querer repetir a fórmula tropical. Mas havia um risco: instabilidade econômica, caos social e perda de legitimidade internacional.
Militares pressionados, mas não inocentes
Barroso sugere que os militares só recuaram porque sentiram a pressão externa. O que significa dizer, por omissão, que não estavam naturalmente comprometidos com a democracia. É uma acusação gravíssima: sem os EUA, a caserna teria cruzado o Rubicão?
A pergunta incomoda, mas precisa ser feita: qual é o grau de confiabilidade democrática das Forças Armadas brasileiras? Como explicar que só diante de pressões dos Estados Unidos — e não do próprio povo brasileiro, nem das instituições nacionais — a cúpula militar tenha decidido não apoiar uma ruptura?
Por que esse “aliado” não age assim em outros lugares?
Barroso parece aliviado ao reconhecer o papel americano, mas aplaudir os EUA como salvadores da democracia exige cautela. Afinal, por que esse “bom samaritano” não impede golpes no Peru, repressão no Equador, ou retrocessos na Argentina? Quando interessa, a Casa Branca fecha os olhos, ou até financia ditaduras. O apoio ao Brasil parece mais uma defesa dos interesses dos mercados globais do que da Constituição brasileira.
Acresce que o silêncio institucional continua ensurdecedor
Mesmo com a tentativa de golpe fracassada — e exposta em detalhes por delações, mensagens criptografadas e reuniões militares suspeitas —, nenhum general foi até agora punido com o rigor proporcional à sua responsabilidade. Generais da ativa e da reserva que permitiram, se omitiram ou incentivaram a escalada golpista seguem com farda limpa, pensão alta e discursos negacionistas.
E agora, com as palavras de Barroso ecoando no exterior, o Brasil precisa responder: de quem é o mérito por termos escapado de um novo 1964? Do STF? Do povo nas urnas? Ou do Tio Sam?
A hora é grave. A história precisa ser contada com todos os nomes.
O que fica é um alerta: a democracia brasileira está em permanente tensão. Não basta resistir — é preciso expor, punir e educar. E, acima de tudo, não naturalizar o fato de que nossas instituições precisem de aval estrangeiro para funcionar como deveriam.
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