Câmara quer “melhorar” compensação da isenção de IR até R$ 5 mil — mas para quem, exatamente?
Hugo Motta defende "ajustes" na compensação da nova faixa de isenção, enquanto o centrão tenta proteger os lucros do topo da pirâmide e empurrar a conta para o andar de baixo

Isenção até R$ 5 mil: alívio para quem precisa, incômodo para quem manda
O aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil foi um dos compromissos centrais do governo Lula com a classe trabalhadora. Um respiro num país em que o pobre paga mais proporcionalmente do que o milionário — graças a um sistema tributário cruel, regressivo e feito sob medida para blindar o topo.
Mas como sempre acontece no Brasil, quando se tenta corrigir minimamente a injustiça fiscal, logo aparece um “problema de compensação”. E é aí que entra Hugo Motta, relator do projeto na Câmara, que já avisou: “precisamos melhorar a compensação da medida”.
Mas melhorar pra quem?
A pergunta que não cala: a compensação que Motta quer “melhorar” é pra beneficiar o povo ou os rentistas? Porque, nos bastidores, o que se articula é uma forma de garantir que a isenção para quem ganha até R$ 5 mil não afete os ganhos bilionários de quem vive de lucros e dividendos — ainda isentos de qualquer imposto no Brasil.
Hugo Motta fala em “responsabilidade fiscal” e em “preservar setores produtivos”. Mas quem está de fato ameaçado pela nova faixa de isenção não são os pequenos empresários, e sim os grandes financiadores do centrão, que não querem abrir mão de seus privilégios.
O impasse das prioridades: justiça fiscal ou proteção de interesses?
O problema não é a isenção — é a origem da compensação. Para onde irão buscar os recursos? Se não vier de cima, virá de onde sempre veio: do consumo, da carga indireta, dos cortes sociais. E o resultado, mais uma vez, será um Robin Hood às avessas.
A fala de Hugo Motta acende um alerta: a isenção pode virar armadilha, usada para justificar mais sacrifício do andar de baixo — e evitar, a todo custo, taxar os verdadeiros privilegiados da pirâmide.
A disputa que vem: ou se taxa o topo, ou se trai o povo
Se o governo quiser manter coerência com o discurso progressista, precisa bancar a isenção de R$ 5 mil com tributação sobre lucros, dividendos e grandes fortunas. Caso contrário, corre-se o risco de criar um “alívio ilusório”, que será pago com juros pela classe média e pelos mais pobres por meio de outras formas de tributação ou de cortes orçamentários.
O Brasil precisa decidir de que lado está. O momento exige coragem para romper com a lógica perversa que mantém os mais ricos blindados e o povo endividado. A proposta de isenção até R$ 5 mil é justa — desde que não venha acompanhada de uma fatura cruel disfarçada de “compensação técnica”.
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