STF inicia audiências de testemunhas da trama golpista com revelações de pressão militar e uso político da PRF
Depoimentos de ex-comandantes das Forças Armadas e analistas da PRF expõem tentativas de Bolsonaro de minar a democracia
O Supremo Tribunal Federal (STF) deu início nesta segunda-feira, 19 de maio de 2025, às audiências de testemunhas no processo que investiga a tentativa de golpe de Estado após as eleições de 2022. As oitivas, que se estenderão até 2 de junho, visam esclarecer o envolvimento de Jair Bolsonaro e aliados em ações que buscavam impedir a posse do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva.
Entre os depoentes, destacam-se o general Marco Antônio Freire Gomes, ex-comandante do Exército, e o tenente-brigadeiro Carlos de Almeida Baptista Júnior, ex-comandante da Aeronáutica. Ambos confirmaram que Bolsonaro apresentou uma minuta de decreto que previa intervenção no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), buscando apoio das Forças Armadas para invalidar o resultado eleitoral.
Outro depoimento relevante foi o de Clebson Ferreira de Paula Vieira, analista de inteligência da Coordenação-Geral de Inteligência do Ministério da Justiça. Vieira relatou que recebeu ordens para elaborar levantamentos sobre municípios onde Lula e Bolsonaro obtiveram mais de 75% dos votos, além de análises sobre áreas de domínio do Comando Vermelho, após visita de Lula ao Complexo do Alemão. Ele afirmou que suas análises técnicas foram utilizadas para decisões ilegais e que houve um viés político nas solicitações, especialmente por parte de Marília de Alencar, ex-diretora de Inteligência do Ministério da Justiça.
Adiel Pereira Alcântara, ex-coordenador de Análise de Inteligência da Polícia Rodoviária Federal (PRF), também prestou depoimento, revelando que foi instruído a direcionar operações de fiscalização para ônibus e vans que se deslocavam para o Nordeste durante o segundo turno das eleições. Ele mencionou que a ordem partiu do então diretor-geral da PRF, Silvinei Vasques, e que foi informado de que era “hora de tomar lado”.
As audiências são conduzidas por juízes auxiliares do ministro Alexandre de Moraes, relator do caso, com a presença virtual dos ministros da Primeira Turma do STF, incluindo Cristiano Zanin, Cármen Lúcia e Luiz Fux. Os depoimentos são realizados por videoconferência e não podem ser gravados pela imprensa ou pelos advogados presentes, sendo disponibilizados nos autos ao término de todas as oitivas.
O processo envolve oito réus, incluindo Jair Bolsonaro, Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, Anderson Torres, Almir Garnier, Paulo Sérgio Nogueira e Mauro Cid. A expectativa é que, após as audiências, o STF avance para os interrogatórios dos réus e, posteriormente, para o julgamento final, que poderá resultar em penas significativas e inelegibilidade para os envolvidos.
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