Bolsonaro prepara “arapuca” para desmoralizar Cid no STF
Estratégia envolve questionamento técnico e exibição de vídeos para expor inconsistências do delator Mauro Cid

A defesa de Jair Bolsonaro articula detalhadamente o interrogatório de Mauro Cid na sessão desta terça-feira (10), buscando uma “arapuca” jurídica para expor contradições no depoimento do delator. O plano é aproveitar possíveis falhas nas respostas e evidenciar mudanças de versão para desqualificar formalmente a colaboração premiada.
A estratégia foi moldada com base em relatórios do entorno do ex-presidente, que apostam no cerne da delação. O foco está em explorar tecnicalidades sobre documentos — especialmente a “minuta do golpe” —, assim como divergências nos relatos de quem acompanhou os eventos, a fim de colocar Cid em situação arriscada diante do tribunal.
A defesa de Bolsonaro encaminhou ao STF um pedido formal para que o delator seja questionado por um especialista da área de sistemas e tecnologia, com o objetivo de contestar a autenticidade do material apreendido, como arquivos, mensagens e anexos enviados pelo celular de Cid, e favorecer a tese de inconsistência documental.
Nos bastidores, aliados avaliam que Cid apresentou ao menos cinco versões diferentes sobre o esquema golpista, o que enfraqueceu sua credibilidade e ofereceu munição jurídica para ataques. A defesa pretende utilizar declarações anteriores, inclusive do próprio delator, como forma de demonstrar dúvida substancial — que, segundo a estratégia, comprometeria a condição necessária para validar a delação.
Há ainda planos para confrontar Cid com reações a perguntas da qualificação técnica do material, observando se ele manterá as críticas mais contundentes contra Bolsonaro ou se recuará, o que abriria caminho para retratação de parte dos depoimentos.
Por que isso é relevante
A manobra pode redefinir o valor jurídico da delação no processo. Demonstrar que Cid alterou versões ou não sabe identificar documentos relevantes pode minar a linha de acusação que fundamenta as teses da PGR. Por outro lado, a resposta do relator Alexandre de Moraes e a reação do tribunal a esse tipo de embate também terão peso decisivo para o andamento do caso — se o STF considerar os contratempos técnicos válidos ou irrelevantes para os elementos substantivos da acusação.
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