Não é mistério: Jair Bolsonaro transformou a arte da vitimização em um projeto político. Mas o que antes mobilizava multidões e gerava manchetes, hoje soa como um disco riscado — e até seus aliados já cobram o “encarreira o drama”. O problema? A estratégia que um dia funcionou como combustível moral para sua base agora virou piada pronta, e a razão é simples: o Brasil cansa até do mesmo mártir.

A Fórmula que Virou Clichê

Desde a facada de Adélio Bispo em 2018, Bolsonaro monopolizou o papel de vítima permanente. Cada internação, cada dor abdominal, cada foto pálida no hospital vem acompanhada do mesmo roteiro:

  • “Fui esfaqueado por você”;
  • “Sofro por seu futuro”;
  • “A esquerda quer meu sangue”.

O problema é que, pela 12ª cirurgia, até os fiéis começam a cochilar no sermão. A imprensa — que antes hesitava em questionar seu estado de saúde — agora brinca: “Bolsonaro antecipa prisão prendendo o intestino” (O Sensacionalista). Até o público da direita, antes comovido, hoje revira os olhos.

Por que a Vítima Virou Piada?

  1. O Efeito Cristo Mal Aplicado
    Bolsonaro copiou o maior truque das igrejas: a culpa coletiva. “Cristo morreu por você” vira “Tomei uma facada por você”. Só que há um detalhe: Cristo só morreu uma vez. Quando o martírio vira série de TV, o público troca de canal.
  2. A Saúde que Não Convence
    Antes da primeira cirurgia pós-facada, Bolsonaro já pedia orações por dores abdominais em igrejas. Ou seja: o problema é antigo, mas o marketing da dor é novo. E quando a plateia percebe o green screen do sofrimento, o engajamento despenca.
  3. O Hospital Virou Palco (e o Público Saiu)
    Enquanto o Papa Francisco ficou 30 dias internado em silêncio, Bolsonaro transformou o CTI em reality show: vídeos de pijama, fotos de soro, discursos de “estou aqui por vocês”. Só que, em 2024, ninguém mais compra o ingresso.

Vitimização Não Barra Prisão

Bolsonaro parece acreditar que um atestado médico particular vai convencer Alexandre de Moraes a trocar a cadeia por uma cama de hospital. Engano fatal:

  • A Justiça exige laudo pericial independente, não autoflagelo midiático.
  • Xandão não é fã-clube para cair no conto do “presidente frágil”.

Ou seja: tanto o tribunal quanto a opinião pública já ligaram o modo “desconfiômetro”. E quando a vítima vira meme, até a estratégia mais ensaiada vira teatro mambembe.


O FIM DO CICLO: QUANDO ATÉ OS FIÉS CANSAM

Bolsonaro errou ao achar que o Brasil teria estoque infinito de comoção. A história ensina: vitimização é como gasolina — funciona até o tanque secar. E o tanque, hoje, está no fundo do poço.

Enquanto isso, o Brasil segue em frente. Afinal, até o mártir mais persistente vira só mais um cara que chorou lobo demais.

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