Damares abandona bolsonarismo raiz e ataca Virginia na CPI das Bets
Senadora bolsonarista surpreende aliados ao criticar influenciadora ligada à Blaze e levanta suspeitas sobre exploração de jovens no marketing das apostas online.

Se alguém ainda tinha dúvidas de que o castelo de hipocrisia do bolsonarismo começava a ruir por dentro, a senadora Damares Alves tratou de tirar qualquer ilusão. Durante a CPI das Apostas Esportivas, a ex-ministra — ícone da pauta “cristã” do governo Bolsonaro — desferiu duras críticas à influenciadora Virginia Fonseca, que promove a plataforma Blaze e se tornou símbolo da fusão entre celebridade, capital digital e jogo de azar.
Mas atenção: a fala de Damares, por mais que vista a máscara da moralidade, expõe um conflito interno entre os setores do bolsonarismo, que se alimentam de conservadorismo para o povão, mas fazem alianças espúrias com o que há de mais rentável no submundo da economia digital.
“Virginia tem milhões de crianças como público”
Damares foi cirúrgica ao afirmar que a influenciadora tem como principal público crianças e adolescentes — e que, portanto, promover uma casa de apostas é uma forma disfarçada de exploração e aliciamento. Disse ainda que a própria estética usada nas propagandas visa um público juvenil: “São vídeos coloridos, com música, gente bonita ganhando dinheiro fácil. Isso é um crime disfarçado de entretenimento”.
A senadora não citou o nome de Virginia diretamente — uma tática que já virou praxe para evitar processos —, mas tudo no discurso apontava para a influenciadora, que é casada com Zé Felipe, filho de Leonardo, outro bolsonarista de carteirinha.
A rachadura do clã digital
Esse episódio marca uma mudança de tom. Até então, Virginia era blindada pelo bolsonarismo, que via nela uma “embaixadora da juventude conservadora” — uma espécie de “influencer palatável” para o público evangélico. Mas, com a CPI jogando luz sobre o rastro de prejuízos deixados pelas apostas online, a blindagem caiu.
Aqui entra a ironia trágica: Damares, que ajudou a legitimar um governo que destruiu políticas públicas para a juventude, agora finge indignação com o aliciamento digital promovido pelos seus próprios aliados.
O bolsonarismo em crise de identidade
O caso expõe mais do que hipocrisia — revela a fragmentação de uma base moralista que se vê obrigada a escolher entre a defesa da “família” e os lucros bilionários do jogo digital. E nesse embate, o que prevalece é o pragmatismo financeiro, não os valores que eles fingem defender.
O que resta agora é a disputa por narrativas: de um lado, Damares tentando posar de “salvadora das crianças”; do outro, a máquina bolsonarista nas redes, que não pode romper com influenciadores como Virginia sem perder relevância com a juventude alienada e consumista que ela representa.
Enquanto isso, o Brasil real segue sem políticas públicas efetivas para educação digital, regulação das apostas e proteção da infância.
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