Projeto de lei e nova fase da CPI querem enquadrar celebridades que lucram em cima do vício alheio, expondo os bastidores bilionários da indústria de apostas online

A farra dos influenciadores das apostas online está por um fio

Em primeiro lugar, é preciso nomear o que está acontecendo no Brasil: uma verdadeira epidemia digital de vício e endividamento patrocinada por celebridades. Não é exagero — é fato. A indústria bilionária das apostas online se infiltra na rotina da população, travestida de entretenimento, enquanto figuras públicas — de ex-BBBs a ex-jogadores — se tornam os rostos amigáveis dessa armadilha algorítmica.

Mas há uma resistência em curso.

O deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) acaba de apresentar um projeto de lei para coibir a atuação de influenciadores digitais na promoção de apostas online. A proposta altera o Código de Defesa do Consumidor para proibir que celebridades utilizem sua influência para divulgar atividades de “alto risco financeiro e psicológico”, como é o caso dos jogos de azar virtuais.

E por que isso importa? Porque, hoje, a propaganda dessas plataformas é agressiva, emocionalmente manipuladora e amplamente direcionada a jovens e vulneráveis. Os próprios aplicativos usam técnicas de design viciante e notificações constantes para manter o usuário engajado — ou melhor, aprisionado.

CPI das Bets amplia cerco aos astros do Instagram e do TikTok

Por outro lado, a CPI das Bets, em andamento na Câmara, avança numa nova frente: convocar influenciadores e celebridades que se beneficiaram financeiramente com a promoção dessas plataformas. Entre os nomes já citados, figuram artistas, ex-atletas e até cantores de funk e sertanejo.

A lógica é simples e perversa: transformar seguidores em apostadores. Usando códigos de desconto, sorteios e vídeos ostentando ganhos irreais, esses influenciadores não vendem apenas um produto — vendem um estilo de vida baseado em risco e ilusão. É como se vendessem cigarros com glitter.

A CPI investiga ainda possíveis ligações dessas celebridades com esquemas de manipulação de resultados esportivos e fraudes sistêmicas — o que pode indicar que nem tudo é só “azar do jogador”. O buraco, como sempre, é mais embaixo.

Aposta, vício e impunidade: um tripé de destruição social

Acresce que essa indústria opera numa zona cinzenta da regulamentação brasileira. Embora a legalização das apostas online tenha avançado, a fiscalização é ainda incipiente — e os contratos de publicidade com influenciadores se tornam iscas disfarçadas de lifestyle. Um clique num link e pronto: o CPF de um jovem já está comprometido com dívidas que não param de crescer.

E o pior? Enquanto isso, as empresas de apostas seguem faturando bilhões em paraísos fiscais, sem retorno social real, sem responsabilidade com as tragédias que provocam.

É nesse contexto que o projeto de Chico Alencar e a atuação da CPI ganham relevância histórica. Estamos falando de uma tentativa de reconquistar o controle público sobre uma máquina de moer esperanças — e monetizar miséria.

A hora de reagir é agora

Não se trata de moralismo. Trata-se de responsabilidade. A promoção de apostas por influenciadores é, sim, uma questão de saúde pública, de soberania digital e de ética na comunicação. Quantos jovens precisam se endividar antes que se reconheça isso?

Por que esse “bom samaritano digital”, que diz estar apenas “mostrando oportunidades”, não usa sua influência para promover leitura, ciência ou cultura? Simples: porque não rende comissão.

É preciso dizer com todas as letras: celebridade que lucra com a dependência alheia não é “empreendedor” — é cúmplice de uma engrenagem perversa.

A proposta de Chico Alencar e a CPI das Bets apontam para um futuro mais regulado, mais justo e menos enganoso. Mas dependem da pressão popular e da mobilização consciente.

A hora é grave. E perigosa.


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1 comentário em “Influenciadores das apostas: Chico Alencar e CPI das Bets escancaram o rastro de ganância e manipulação digital

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