Análise revela que o depoimento de Bolsonaro foi pensado para lacrar entre aliados, mas não conseguiu afetar juridicamente seu processo — trata-se de espetáculo midiático, não de desmontar as acusações.

A performance de Jair Bolsonaro durante o interrogatório no STF não foi uma exposição jurídica — foi um show ensaiado, calculado para funcionar no palco da chamada “lacrodefesa”. Os advogados dele instruíram cada frase pensando não na Corte, mas nos aplausos ferrenhos dos bolsonaristas.

1. O depoimento foi bem-roteirizado — mas é irrelevante juridicamente

Bolsonaro falhou em demonstrar contradições reais da acusação, e essa narrativa está consolidada. Como ele mesmo admitiu: é típico de réu negar tudo. Um político infantilizado consegue comover sua base, mas isso não altera a condenação já prevista.

2. Lacrodefesa: engajamento simbólico, vazio processual

O ex-presidente recorreu a ataques retóricos contra o STF e o TSE para pintar o tribunal como “lulista”. Esse tipo de discurso ajuda a reanimar uma mobilização digital, mas no meio jurídico não tem valor legal algum .

3. A “vingança institucional”? Uma armadilha narrativa

Bolsonaro tenta transformar o STF num inimigo, uma artimanha para deslegitimar qualquer decisão contrária. Mas confundir reação correta da Justiça com perseguição é ameaçar a independência do tribunal — com escopo claro: reconstrui-lo como “o inimigo do povo”.

4. Golpe jurídico vs. golpe real: o erro estratégico

Executar um golpe militar sem apoio das Forças Armadas é impossível. Ao perceber que o exército não aderiu, Bolsonaro reposicionou-se: passou a tentar produzir caos controlado — mobilizar massa sem romper institucionalmente —, numa tática que mistura comunicação política com manobra melancólica .

5. A fraude retórica

Ele responsabilizou o TSE por multas e retórica midiática — criando um ambiente de vitimismo e buscando tirar o dolo da acusação. Mas juridicamente, não importa se a estratégia foi fraca ou tinha um “grupo de idiotas” na linha de frente; o crime está consumado pela tentativa de golpe .


Conclusão

  • Para a Corte: o depoimento foi irrelevante — ele não vazou provas, não desconstruiu a acusação.
  • Para os bolsonaristas: foi empolgante — “lacrou”, emocionou, mobilizou.
  • Para a democracia: é perigoso. Trata-se de narrativa demagógica que questiona os limites do Estado de Direito.

GANCHO

Essa “lacrodefesa” não é uma vitória — é um placar vazio. A indignação, emoção e estratégia midiática são incapazes de mudar uma condenação fundamentada. Resta saber se, no jogo que mistura show político e processo penal, nossa democracia será refém do espetáculo — ou se resistirá ao populismo processual.


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2 comentários sobre “Bolsonaro e a “lacrodefesa”: espetáculo para a plateia — por Leonardo Stoppa

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