Não somos anti-Ocidente, somos pró-desenvolvimento" — como a diplomacia de Lula está reescrevendo as regras do jogo geopolítico

Introdução

“O multilateralismo é o único caminho que devemos seguir”. A frase de Lula durante o Encontro de Sherpas do BRICS em Brasília 9 ganha corpo nesta semana enquanto o presidente brasileiro cruza o continente eurasiático: depois de 15 anos sem pisar em Moscou, onde discutiu com Putin o aumento de 20% no comércio bilateral (agora em US$ 12,5 bilhões), desembarca em Pequim para uma agenda que inclui desde usinas nucleares até a governança da inteligência artificial — dois pilares da presidência brasileira do bloco em 2025.

A viagem, que ocorre seis semanas após o Brasil lançar o site oficial da presidência do BRICS, não é mera formalidade: é a consolidação de uma aposta estratégica que coloca o bloco como eixo central da política externa brasileira, com claras divisões em relação às ameaças protecionistas de Trump.


Os números da aposta chinesa

Os acordos em negociação revelam o escopo da parceria:

  • Energia: Cooperação em pequenas usinas nucleares (SMRs), com a China National Nuclear Corporation (CNNC)
  • Comércio: Meta de elevar o fluxo comercial além dos atuais US$ 150 bilhões/ano, com ênfase em produtos de alto valor agregado
  • Tecnologia: Memorando sobre governança de IA alinhado às prioridades do BRICS

Dados do Ministério das Relações Exteriores mostram que 43% dos investimentos chineses na América Latina em 2024 foram para o Brasil — um recorde histórico.


O xadrez geopolítico

A viagem ocorre em um contexto delicado:

  1. Pressões ocidentais: Trump ameaçou tarifas de 100% contra países que reduzirem uso do dólar
  2. Cisões no BRICS: Enquanto Rússia e China promovem agenda “anti-Ocidente”, Brasil, Índia e África do Sul defendem neutralidade
  3. Timing estratégico: A 2 meses da Cúpula do BRICS no Rio (julho/2025), onde Lula pretende anunciar novos membros

Celso Amorim, arquiteto da política externa, foi enfático: “O BRICS não é anti-Ocidente, é pró-equilíbrio” — frase que sintetiza o tightrope walking de Lula entre Washington e Pequim.


As prioridades concretas da presidência brasileira

O site lançado em fevereiro 7 detalha seis eixos que serão levados à China:

  1. Governança da IA: Regulação inclusiva, tema que será debatido em abril no Itamaraty 
  2. Clima: Financiamento para COP30 (Belém/2025), com possível anúncio de fundo conjunto China-Brasil 14
  3. Saúde global: Parceria em vacinas e medicamentos, ampliando o acordo de 2024

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