Reforma do IR: elite resiste enquanto Hugo Motta fala em “compensação justa”
Proposta de taxar lucros e dividendos esbarra no lobby dos super-ricos, e Hugo Motta tenta vender como “justa” uma compensação que evite confronto com os donos do capital

A “compensação justa” que protege privilégios: o impasse da Reforma do IR
A frase de Hugo Motta parece neutra: “O maior desafio da reforma do Imposto de Renda será encontrar uma compensação justa”. Mas, lida com atenção, revela muito mais do que aparenta. O deputado da base governista, aliado de Arthur Lira, não está falando apenas de técnica fiscal — está falando de política de classe. Porque toda vez que se propõe a taxar os super-ricos, surge a necessidade de “compensá-los”.
Mas compensar o quê? O fato de, há décadas, lucros e dividendos serem isentos de tributação, num dos maiores escândalos de injustiça fiscal do planeta?
Dividendos sem imposto: o escárnio da elite financeira
O Brasil é uma das raríssimas economias do mundo onde donos de empresas recebem lucros milionários sem pagar um centavo de imposto sobre isso. Enquanto o assalariado tem até 27,5% descontado na fonte, grandes empresários e banqueiros seguem blindados.
A proposta de reforma do Imposto de Renda tenta corrigir parte disso. Mas já nasceu acuada. Hugo Motta, relator do projeto na Câmara, adianta o tom: será preciso “avaliar a desoneração da folha”, “olhar para o Simples Nacional”, “não penalizar setores produtivos”. Em tradução livre: os grandes querem manter seus privilégios e, se tiverem que ceder, exigem contrapartidas gordas.
A farsa do “ajuste técnico”: quando o lobby dita a reforma
Quando se fala em “reforma tributária progressiva”, a resistência é imediata. A pressão dos setores empresariais é feroz — via FIESP, CNI e todo tipo de bancada patronal. O discurso da “compensação justa” é, na prática, um freio para evitar qualquer redistribuição real de riqueza.
O governo tenta avançar com a proposta, mas precisa lidar com um Congresso onde a maioria dos parlamentares é, direta ou indiretamente, financiada por quem será afetado pela taxação de dividendos. É o velho conflito: o povo vota, mas quem manda é o capital.
Justiça fiscal ou perpetuação das desigualdades?
Se a Reforma do IR não tocar nos dividendos, não tocar nas grandes heranças, não enfrentar o sistema regressivo que massacra o consumo e poupa o patrimônio, será apenas mais uma manobra para dizer que “algo foi feito”. E se, como sugere Hugo Motta, toda taxação vier acompanhada de “compensações” bilionárias ao topo da pirâmide, a classe trabalhadora seguirá pagando a conta.
O que está em jogo não é técnica, é poder
A discussão sobre o IR não é apenas técnica. É uma disputa de modelo de país. Continuaremos premiando quem lucra com capital financeiro e penalizando quem vive do suor? Ou teremos coragem de implementar justiça tributária de verdade?
A elite já começou a reagir. Cabe agora aos movimentos sociais, economistas progressistas, sindicatos e organizações populares pressionarem para que a reforma vá além da maquiagem — e toque onde dói: nos milionários isentos há décadas.
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