STF começa a enquadrar militares do golpe: Moraes vota por denúncia contra 10 envolvidos
Decisão histórica no STF aprofunda responsabilização do núcleo militar por tentativa de golpe após a eleição de Lula. Dois oficiais escapam — por enquanto.

A blindagem acabou.
O Supremo Tribunal Federal começou a puxar o fio do novelo mais temido pela cúpula das Forças Armadas: a responsabilização direta de militares pelo golpismo que eclodiu em 2022 e culminou na tentativa de golpe do 8 de janeiro. Nesta segunda (20), o ministro Alexandre de Moraes votou a favor da denúncia contra 10 militares, em um gesto simbólico e jurídico de grande magnitude.
A denúncia — oferecida pela Procuradoria-Geral da República — atinge oficiais de alta patente, incluindo três generais de Exército. Se o voto de Moraes for acompanhado pelos demais ministros, como tudo indica, o processo passará a correr com réus formalizados, abrindo caminho para prisões, quebras de sigilo e bloqueios de bens.
Mas o que significa isso? E por que importa tanto?
Militares no banco dos réus: um divisor de águas
Desde a redemocratização, o Brasil evita tocar na caserna. Mesmo diante de evidências robustas de participação militar em articulações golpistas, o STF vinha agindo com parcimônia. Só que agora o quadro muda: o núcleo armado do golpe está oficialmente na mira.
Entre os denunciados estão figuras ligadas diretamente à inteligência e logística das Forças Armadas. Isso desmonta a farsa da “neutralidade institucional”. A operação para tentar impedir a posse de Lula — incluindo a minuta de decreto golpista apreendida com Anderson Torres — contou com apoio ativo de setores fardados.
O silêncio dos comandos militares ao longo de 2023 já era ruidoso. A tentativa de manter os “companheiros” fora do alcance da Justiça caiu por terra. Moraes, como relator, deu o passo inevitável: colocar o peso da toga sobre a estrela dos generais.
Dois escapam: mas até quando?
É verdade que dois militares citados ficaram de fora da denúncia. O motivo, segundo o voto de Moraes, seria a ausência de provas materiais conclusivas — por ora.
Mas não se engane. Isso não representa alívio duradouro. O cerco está se fechando. As delações premiadas de Mauro Cid, as mensagens recuperadas do celular de Ailton Barros e os diálogos vazados entre oficiais mostram que há muito mais gente envolvida, inclusive na ativa.
É só questão de tempo até que as conexões sejam costuradas. O próprio ministro Alexandre de Moraes tem reiterado que as investigações continuarão — e agora com muito mais material em mãos.
Por que isso importa para o Brasil democrático
Essa denúncia marca um ponto de não retorno. Pela primeira vez desde a redemocratização, militares são responsabilizados por ações diretas contra a Constituição — não por tortura ou omissão no passado, mas por articulações golpistas contemporâneas, em pleno Estado de Direito.
A narrativa da extrema direita — que tentava pintar os golpistas como “patriotas” — derrete ainda mais com cada voto do STF. A mentira das “urnas fraudadas”, o “clamor popular”, a “defesa da liberdade” — tudo isso desmorona diante dos autos.
Estamos falando de quartéis sendo usados como trincheiras da subversão, oficiais traindo o juramento à pátria e tentando impor um regime autoritário.
A hora é agora: romper o pacto de silêncio
O que está em jogo não é apenas punir quem atentou contra a democracia. É garantir que as Forças Armadas deixem de ser um poder paralelo, uma espécie de “instituição acima da lei”.
É romper com o ciclo de impunidade iniciado na transição pactuada de 1985. Chegou a hora de encarar a verdade: o golpismo não é um acidente, é um projeto. E tem farda.
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